Mas ela, exausta demais para divagar, apenas sorria e suspirava a espera de um daqueles momentos mais ricos em que se esquecia da inveja e da cobiça por simplicidade, voltando sua exausta atenção para conversas supérfluas sobre vidas aparentemente comuns.
os quebra-cabeças são feitos de peças recortadas que se encaixam após alguma enfâse na perda neuronal progressiva, ou, traduzindo: você se esforça pra caramba pra encaixar uma peça quando faltam umas 99999 a mais!
e quando você completa todas as peças, com neurônios de menos, não é possível que ele se reorganize. e que graça tem desmontá-lo e montá-lo exatamente do mesmo jeito? quebra-cabeças são inertes. pensando assim, beira a esquisitice.
deviam existir os quebra-cabeças que, ao fim da montagem, produziam novas peças, com novos arranjos. mas, eu sei, seria o fim do mundo capitalista das fábricas de quebra-cabeça.
fica a sugestão!
mas, falando sério, se a minha vida fosse um quebra-cabeça?
fato: as peças não se encaixariam mais do mesmo jeito.
adoro a falta de inércia da vida.
pois é…
sabe?
O alimento nosso de cada dia.
Nas sociedades primitivas, as refeições eram consideradas momentos em que apenas as pessoas que faziam parte da tribo participavam. Logo, alimentar-se é pertencer. Alimentar-se é dividir.
Ser aceito em um grupo é um certificado de pertencimento e compromisso.
Logo, alimento é participação, pertencimento, divisão e compromisso. Fazer parte, não apenas nutrir-se.
Minhas relações são permeadas por alimento. Na minha família, quando íamos à fazenda dos meus avos, havia farofa de ovo e carne de sol para o jantar, além do suculento bolo de puba. Sempre eram feitas duas assadeiras do bolo, um para nós e outro para o meu avô. Primeiro comíamos a nossa, depois subiamos no armário da despensa e pegavamos a assadeira com o bolo dele.
Na semana santa, nos reuniamos para ganhar os ovos da pascoa que minha avó nos dava e comiamos um banquete recheado com os melhores pratos. No mesmo ritmo, o natal, os aniversários e comemorações também foram marcadas por comida.
No domingo, adorava ir para casa de minha tia comer frango assado com macarrão e farofa… Quando eramos menores íamos todos para um restaurante, comer camarão a catupiry e matarmos os mais velhos de vergonha com a gritaria que faziamos… Os churrascos na casa de minha tia eram de impróviso, mas o peixe assado na brasa nunca me sai da memória…
Da mesma forma, outros grupos são marcados por reuniões gastrônomicas. Os encontros do antigo octeto (com a turminha da faculdade), os das maridas, as festas com os amigos do colégio, as reuniões no trabalho… Enfim, reunião de qualquer espécie – para mim – pede comidinhas saborosas.
Um encontro é um espaço de troca e assim, uma reunião para nutrir.
Almoços de domingo, reuniões em família, ovos da páscoa, ceia de Natal, jantar a dois, almoço coletivo, almoço de negócios…
Pensar nisso me faz sentir certo alívio. Somos uma sociedade desenvolvida, pós-moderna e globalizada. Por outro lado, estamos cada vez mais mergulhados no consumismo, na falta de amor, no imediatismo e no individualismo.
Assim, quando me deparo com certos rituais que ainda mantemos nestes dias pós-modernos, minha alma se assossega por encontrar algum ligação com nossas raízes.
sobre as mudanças necessárias.
sobre as cartas que permanecem.
ontem, vinte de julho de dois mil de dez, dia do amigo, relembrei de um tempo bem antigo.
quando criança, sempre estudei no mesmo colégio, tive os mesmo colegas e conhecia todos os funcionários da minha escola.
assim, meus grandes amigos de infãncia eram praticamente os mesmos desde o maternal. muitos permaneceram até o último ano e se mantêm presentes até hoje. outros mudaram de turma, de colégio, de cidade ou passaram a ferquentar outros grupos. entretanto, mesmo os que não fazem parte do meu cotidiano, são figuras vivas e alegres em minhas memórias, como parte de um tempo bom.
ontem recordava dos dias do amigo que vivi nos meus tempos de colégio. todos os anos, nós trocavámos cartinhas com letras miúdas e desenhos bonitos. todos os anos, organizavamos envelopes coloridos, frases carinhosas e uma dedicação intensa. cada envelope recebia o nome do remetente e um conteúdo lotado de querer bem. sem dúvida, essas eram as melhores lembranças do meu passado.
ainda guardo algumas das cartas, mas a melhor imagem é de um corredor cheio de amigos distribuindo e lendo essas cartinhas. ainda posso lembrar o sabor daqueles momentos e meu mundo hoje – mais crescido – ainda guarda um pouco daquele alegria de menina.
mesmo atrasado, desejo um feliz dia do amigo aos meus.
estes companheiros ao acaso que a vida nos deu para termos a quem pedir uma mão quando tudo parece impossível.