Mês: fevereiro 2011
asas.
as vezes sinto falta de exercitar meus dedos na corrida frenética, buscando explicações. comumente sinto uma espécie de sindrome de abistinência que descamba para um sentimento trôpego de saudade e falta. sinto falta dos meus dedos se agitando nos teclados, das minhas palavras entendendo a minha confusão e da minha forma esquisita, poética e ainda mais minha de transformar, minha forma de encontros em mim.
as vezes sinto falta das minhas palavras todas, da minha desordem cotidiana, do meu tempo vago, da minha insensatez constante e dos meus dedos frenéticos e incansavelmente dispostos a exorcizar toda uma espécie de demônios.
sinto falta da minha escrita (e dos meus atos automáticos em escrever o que eu ainda não sabia).
sinto falta daquela alegria boba de escrever um texto, enviá-lo à bf, aguardar ansiosa o seu retorno, reler uma, duas, três vezes. sinto falta até de não reconhecer a beleza e alguma soma de dias depois, lê-los curiosamente espantada comigo mesma.
assim, sinto falta de uma parte de mim que, por muito, me foi especial, forte e sobrevivente. sinto falta da menina com olhos tomados de sustos e dedos repletos de determinação.
mas para existir saudade, um dia existiu presença…
as vezes, tambem me assusto com o que vejo, com o que se sucedeu ao dizer adeus aos dedos frenéticos, à mudança das estações que lançaram novas sementes nos campos. as vezes ainda me surpreendo com minha voz, meu tom, meu isso e aquilo e mais um pouco e mais um tanto e todas as verdades e todas as possibilidades e também os meus receios.
sinto falta da minha escrita, como um filho que deixou o ninho e partiu para voar mais alto e sinto um susto novo a cada dia pois ao deixar a escrita voar, voei também para longe.
sinto falta do que eu era, dos dedos, das trocas de emails com a amiga querida, dos comentários, dos risos e das lágrimas, dos sucessos, dos espantos, dos desenrrolares, das bobagens, daquela menina que um dia se sentava na janela, da mulher que se sentava ao computador.
dizer adeus a quem um dia foi presença tem essa forma esquisita de vazio compreensivo, a gente quer deixar bater asas e voar, ao mesmo tempo em que quer ter por perto para sentir o calor protetor ali com a gente.
domingo.
amizade de infância é como um prato de Aussie Cheese Frie, suculentas batatas fritas cobertas de queijo e muito bacon: dezenas de calorias carinhosas cobertas pelas melhores histórias, melhores lembranças e amigos eternamente “boa pedida”… aos 10, 20, 30, 50, 100….
Verdades sobre as coisas…
Anda tão assustada com as pessoas, logo exausta de tudo, de juntar entulhos de construções mal-feitas. Não quer esperar mais nada da primavera.
Em: Caras como eu.
segunda-feira.
00:00.
a revolta é interna, sei que não dura mais do que algumas horinhas de sono. o sentimento é intenso, mas não novo. seria para você, mas não é para mim. apenas uso maquiagem de qualidade, envelhecida em barril de carvalho como um vinho tinto de primeira. a sensação não é das melhores, mas também não é de se jogar fora. não seria vergonhoso, mas não encontro adequação com o lisonjeiro. apenas sinto isso tudo aqui, agora, neste extao instante. não sei de onde veio, não sei porque começou. e se sei, desculpe-me, mas irei bater pé firme no meu utópico não saber. saber é o problema, assim penso. não saber é a glória dos que ignoram, a fama dos não-sábios, o segredo da felicidade.
é sempre assim, sempre vocês, sempre da mesma forma, sempre esperando, sempre não tendo, sempre sofrendo e doendo, mas sempre relembrando. já vi esse filme e ainda o verei, sinto muito. sinto muito, eu.
você ainda irá reviver essas cenas mil e um vezes (e mais algumas delas). apenas busque os detalhes, ok? é o meu conselho. perceba os figurantes, não se prenda ao enredo, saboreie a pipoca, conte os nomes nos créditos, ria com o palhaço bem ali garantindo ou aquele outro reclamando de tudo. por vezes, tropece “acidentalmente” no fio e arranque a tomada, desligue a merda do aparelho, sorria com sua glória, se revolte contra o gerador, vibre com o fim. e prepare-se, logo vai passar no “vale a pena ver de novo”, mas saiba – eu sei que você sabe – não vale.
e se quer saber mesmo mais um conselho? não se explique a ninguém, não divida teorias, não espere conselhos, muito menos ouça o que dizem. se a vida é formada por isso tudo, seja um pouco mais você, sem programas globais. só por uma noite, ligue a tv e assista ao BBB, veja o que todos comentam, esqueça o conteúdo, abuse do senso comum, esqueça as regras de boa vizinhança.
qualquer dia desses ligue o foda-se até para si mesma, acredite em nada, duvide de tudo, mande para um lugar nada linsojeiro, sorria sem controle. surte, meu bem. pois na vida, não há nada que dure, que não volte, que se mude.
e nós continuamos aqui, dia após dia, noite após noite, sentindo o que não entendemos, vivendo com o que não controlamos, contando centavos, gastando bem pouco, reciclando lixo, reduzindo tudo, perdendo contato, saldando dívidas, escapando de chatos, alimentando gatos, secando pra(n)tos.
a revolta é interna, você já sabe, mas admire um tanto, sorria para o desconhecido, quebre um copo, ligue o foda-se, dance na chuva, finja ser livre, grite com os chatos, massacre o idiota e permita. não dura mais do que uma noite, você também já sabe, mas amanhã, ao voltar, existirá, diferente de hoje, um leve brilho no olhar daqueles olhos que verão (mais uma dezenas de vezes) velhas histórias chulas e tortas de um enredo que você, eu, já sabe de cor.
mesmo que mude.
e então chega o dia de tirar a poeira de tudo e soprá-la para longe, mesmo sem que se tenha encontrado o manual de instruções ou uma garantia anti-percalços. os grãos gravitam no ar após o sopro e você ainda olha em volta buscando. mas os grãos não esperam e logo se assentam, em outros móveis, em outros cantos. e você ainda está, mesmo que não (o mesmo, no mesmo, ali mesmo).
um dia.
eis que as palavras se embaralham, o dia se vai e a vida segue.
eis que o brilho se esvai, o sol se despede e as horas passam.
eis que a vida se desenrrola, os pássaros dormem e as teias se entrelaçam.
somos um só e isso tudo.
somos e somos, sem fim.
durma bem, dia qualquer.
foto: suzypuzz
(…)
e da mesma forma como ela temia a noite por ser escura, ela temia o dia por sua luz. seus olhos assustavam-se com o futuro da mesma forma como o passado lhe eriçava os pêlos do corpo e tremia as suas bases. ela não sabia bem como ser o que deveria, sem esbarrar na dúvida e na descrença. ela não sonhava que vivia, ela vivia e sonhava invariavelmente, cotidianamente e, muitas vezes, de forma insuportável. ela desacreditava e sonhava e ás vezes se encharcava, mas ia e esperava e dóia. era sempre sem fim, ela sabia, ela desconhecia e os olhos magoavam e as lágrimas se iam.
a luz trazia o que ela não queria enxergar, a vida que ela não aprendeu a lutar, os sonhos que não condiziam. e a noite, com sua penumbra, produzia mais medos, mais monstros, mais castelos, mais princesas, desfazia a claridade, constuía um mundo. e o mundo a asustava.
e quando a noite se ia e a luz surgia, o susto se tornava cansaço e as dúvidas, tristeza. ela não era uma soma, mas sim multiplicação.
soma seria uma operação matemática banal frente à sua grandeza de vida. ela sabia. e ia. e dóia. e sorria. mas ia. indo até onde dava, descansando quando o corpo exauria e vivendo da maneira como podia.
ali estava toda a poesia, a alegria, a harmonia, a companhia, a agonia, a fantasia. e tudo ia e voltava como um mar. uma hora ou outra, com luz ou com escuridão, seus olhos pesavam e ela sofria. em muitas outras, o sol a alegrava e ela corria. era um carrossel, um mar vivo. era ela. e assim seria.
e quando o medo da escuridão ameaçava encobrir mesmo o sol do dia, seus pés firmavam o chão e ela buscava um tudo. cada dia mais, cada minuto a mais, a cada respiração a mais, ela buscava e encontrava.
e mesmo com a ameaça da escuridão, ainda havia.
foto: sabino.